Como elogiar no trabalho sem ser "bajulador"
A ciência mostra que escolher a maneira correta de fazer elogios pode ajudar na ascensão profissional. O problema é como fazer isso sem exagero
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Executivo piscando o olho: existe uma fronteira delicada entre o que é um elogio sincero e o que é uma bajulação
São Paulo - Nos jogos
políticos que acontecem todos os dias no trabalho, ninguém quer ser visto
como puxa-saco, embora elogios e reconhecimentos
sejam trocados a todo tempo. o bajulador, pessoa que tece elogios interessados
e desprovidos de sinceridade, é visto da pior maneira possível. A ciência,
porém, mostra que, fantasiada de elogio, a bajulação funciona muito bem nas
empresas e ajuda seus autores a progredir na carreira.
Os pesquisadores também descobriram que os presidentes olham
positivamente os funcionários que possuem a habilidade de elogiar sem exagerar
e que esses profissionais são mais promovidos e mais disputados por
concorrentes.
A ciência também identificou que a bajulação nem
sempre é mal-intencionada. segundo uma análise feita por steven H. Appelbaum,
professor da Concordia University, de Montreal, no Canadá, sobre 36 estudos
relacionados à adulação estratégica, o comportamento puxa-saco pode ser
espontâneo ou premeditado, pode ser sincero ou não.
Mas, a despeito da intenção, o elogio funciona
porque encontra na outra pessoa uma espécie de disposição para ser agradada,
que, por sua vez, produz um desejo de retribuir. Nos estudos de comportamento,
escreve Appelbaum, isso se chama "reciprocidade social".
simplificando, o profissional elogia o chefe, o chefe retribui com uma
promoção.
De acordo com os pesquisadores, a habilidade de
bajular sem ser notado é mais desenvolvida em profissionais de áreas como
vendas, marketing e direito, e mais difícil de ser encontrada entre
engenheiros. Trata-se de uma questão de hábito: em algumas funções, a bajulação
elegante faz parte do trabalho e, ao praticá-la cotidianamente, a pessoa acaba
pegando o jeito.
Outra
pesquisa, da Universidade de Ciência e Tecnologia de Hong Kong, comprova a
teoria ao demonstrar que consumidores caem mesmo na lábia de vendedores capazes
de fazer o elogio correto aos clientes. Se duvidar, tente comprar uma calça. Se
a moça da loja for boa, ela irá dizer que o modelo é perfeito para alguém
refinado. Talvez você fique convencido e compre a calça. Se ela for ruim, dirá
que a calça ficou ótima em você, mesmo em caso de desconforto evidente. Quando
vendedores elogiam bem, segundo o estudo chinês, as vendas aumentam.
O sentimento positivo que a bajulação benfeita
provoca na "vítima" não ocorre apenas no alto escalão ou entre chefe
e subordinado. A habilidade de criar laços por meio dos elogios interfere,
também, no relacionamento entre colegas. É o que sugere uma pesquisa divulgada
na revista médica americana Journal of Basic and Applied Social Psychology que
mostra que uma pessoa tende a ser mais receptiva a um pedido de favor logo
depois de ter sido elogiada por um vizinho de baia. De acordo com os
estudiosos, as respostas positivas aumentam de 50%, numa situação normal, para
79% após uma bajulação.
Antes de sair bajulando por aí, é importante tomar
cuidado com os danos que a imagem profissional pode sofrer caso você seja
identificado como um puxa-saco. "Quem só elogia para conseguir um
benefício pessoal em troca é identificado rapidamente como manipulador",
diz Paulo Campos, consultor do LAB SSJ, empresa de treinamento corporativo, de
São Paulo.
Como qualquer transgressão ética no trabalho, a
bajulação leva a uma condenação sumária. Talvez o puxa-saco não seja demitido,
mas terá muita dificuldade de se livrar da pecha. Além do rótulo negativo, ser
identificado como bajulador faz com que o profissional seja associado a uma
pessoa de baixo desempenho, que faz de tudo para se manter no emprego. E aí o
risco aumenta. "As empresas sérias têm desprezado pessoas com esse perfil
para não perder a competitividade", diz Alfredo Behrens, professor de
gestão multicultural, da Fundação Instituto de Administração (FIA), de São Paulo.
Existe uma fronteira delicada entre o que é um
elogio sincero e o que é uma bajulação. Conhecer esse limite pode ajudar na
próxima vez que sentir vontade de dizer uma coisa agradável ao chefe.
"Louvores sinceros são uma vontade de estabelecer laços de confiança e
reciprocidade", diz Paulo Campos, do LAB SSj. Esses vínculos, no entanto,
não precisam ser formados de maneira artificial. É possível desenvolvê-los com
base na qualidade do trabalho. "Falar para o chefe que você pode executar
bem determinada tarefa é muito mais eficaz do que elogiar a gravata", diz
Behrens, da FIA.
Outra
condição importante para que um elogio seja bem recebido é construir um
relacionamento sólido com o chefe. E isso requer tempo e depende,
principalmente, de ter resultados para apresentar. "É preciso desenvolver
empatia com o chefe", diz Renata Ribeiro, consultora de recursos humanos
do Grupo Empreza, de São Paulo.
"A empatia pode ocorrer porque uma pessoa é
bem-educada e agradável, mas é consolidada, de fato, quando você sabe que pode
confiar plenamente naquela pessoa." Na relação entre líder e subordinado,
confiança significa a certeza de que a tarefa será entregue. Caso pretenda
elogiar o chefe sem ter cumprido seu trabalho, o agrado vai soar falso.
"Sem confiança, a percepção de um elogio é
negativa", diz Ana Cristina de Boer, diretora executiva da consultoria
empresarial Choicest, de Porto Alegre. E não se engane: os chefes percebem
quando há sinceridade. "Demonstrações de identificação de pensamentos só
dão certo quando a relação entre os profissionais é sólida", diz Erundino
Diniz, diretor-geral da LSM, metalúrgica multinacional, que no Brasil tem sede
em São joão Del Rey, Minas Gerais.
Caso um profissional de bom desempenho, com uma
relação de confiança estabelecida com o chefe, queira deliberadamente elogiar,
ele ainda precisará fazer uma leitura correta do ambiente. Só assim é possível
entender se o chefe dá abertura para congratulações, se aquele é mesmo o melhor
momento para esse tipo de atitude e qual é a melhor abordagem.
Ninguém pode prescindir de uma boa relação com o
chefe. Mas, em vez de adular, o ideal é ter paciência para estabelecer pontos
reais e consistentes de afinidade. Melhor, sempre, manter a sinceridade e se
fazer notar naturalmente pelo trabalho.
Vou ou não vou?
Quatro questões envolvidas no ato de bajular
Quatro questões envolvidas no ato de bajular
Por quê
O que motiva a vontade de adular. A pessoa está com desempenho baixo? Quer conquistar uma promoção? Clareza de objetivo ajuda a analisar se é hora de elogiar.
O que motiva a vontade de adular. A pessoa está com desempenho baixo? Quer conquistar uma promoção? Clareza de objetivo ajuda a analisar se é hora de elogiar.
Relação custo-benefício
O bajulador calcula se o elogio vai colar. Ou seja, o risco de parecer puxa-saco será compensado por uma promoção?
O bajulador calcula se o elogio vai colar. Ou seja, o risco de parecer puxa-saco será compensado por uma promoção?
Vítima
É preciso medir quanto o chefe ou o colega está suscetível a cair na armadilha. Se o bajulador
não tem certeza de que o elogio soará sincero, melhor não fazê-lo.
É preciso medir quanto o chefe ou o colega está suscetível a cair na armadilha. Se o bajulador
não tem certeza de que o elogio soará sincero, melhor não fazê-lo.
Situação
A ocasião faz o bajulador. Deve-se avaliar o humor do chefe, a cultura da empresa para a troca de elogios e as pessoas que estão em volta ouvindo o elogio mal-intencionado.
Fonte: EXAME.com - Matéria publicada em 25 de janeiro de 2013
A ocasião faz o bajulador. Deve-se avaliar o humor do chefe, a cultura da empresa para a troca de elogios e as pessoas que estão em volta ouvindo o elogio mal-intencionado.
Fonte: EXAME.com - Matéria publicada em 25 de janeiro de 2013
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